Drácula
Muitos já devem ter se perguntado de onde
veio a lenda de Drácula. Bram Stoker, escritor inglês do séc. XIX inspirou-se
no personagem histórico Vlad III. Mas quem foi Vlad III?
Vlad III foi o príncipe da Wallachia, pequena monarquia que ocupava parte do
território onde agora é a Romênia, no séc. XV.
Sobre a política monarquista da Wallachia...
Inicialmente gostaria de explicar o sistema da monarquia wallachiana. O trono
era hereditário, porém não pela lei do primogênito. Os nobres tinham o direito
de escolher entre os membros da família real quem seria o sucessor. A família
real dos Basarab, fundada por Basarab, o Grande (1310-1352), dividiu-se por
volta do final do séc. XIV. Os dois clãs resultantes, rivais entre si, foram
formados pelos descendentes do Príncipe Dan e pelos descendentes do Príncipe
Mircea, o Velho (avô de Vlad III).
No séc. XV a Wallachia estava sob a influência da poderosa Turquia governada
pelo Sultão Mohammed, o Conquistador, tendo que pagar tributo ao Sultão.
Sobre o seu nome...
Sobre o nome Drácula... Existem duas teorias, ambas começando com a história do
pai de Dracula, Vlad II, também conhecido como Vlad Dracul. A palavra
"Drac" em moldávio significa "Diabo", e "ul" é um
artigo definido. A tradução de "Dracul" seria "O Diabo"...
Esse nome, como era de costume na época colocar um adjetivo ou nome depois do
nome próprio da pessoa (bastar ver o primeiro parágrafo para exemplos), teria
sido colocado por seus rivais políticos, devido ao seu governo extremamente
rígido. A letra "a" colocada no final de um substantivo significa
"filho". Dessa forma, "Drácula" significa "O Filho do
Diabo", nome ganhado por Vlad III por ser filho de Vlad II.
A outra teoria, mais aceita pelos historiadores, seria sobre a consagração de
Vlad II como Cavaleiro da Ordem do Dragão pelo Sagrado Imperador Romano
Sigmundo de Luxemburgo, no ano de 1431. A Ordem do Dragão foi uma instituição
católica fundada para lutar contra os Turcos. O Dragão era o símbolo do Diabo,
portanto um significado alternativo para "Drac" seria
"Dragão". O que faria de "Dracul" "O Dragão".
Vlad III, sendo filho de Vlad II ganharia o nome "Drácula", ou
"O Filho do Dragão".
Vlad III também viria a ganhar o nome Tepes (pronuncia-se Tsepesh), que
significa "O Impalador". O porquê desse nome será explicado mais
adiante.
Sobre a vida de Vlad III
Dracula nasceu em 1431 em Sighisoara, cidade da Transilvânia. Naquela época, o
pai de Dracula, Vlad II, estava exilado na Transilvânia. Vlad Dracul estava
tentando conseguir apoio para seu plano de destronar o príncipe regente da
Wallachia, do clã Danesti, Alexandru I. A casa onde Dracula nasceu ainda está
de pé nos dias de hoje. Em 1431 estava localizada numa próspera vizinhança
cercada pelas casas de mercadores saxões e magyares, e pelas casas dos nobres
(Nota: essas casas geralmente eram utilizadas quando os nobres ficavam na
cidade, pois os nobres moravam no campo).
Sabe-se pouco sobre os primeiros anos da vida de Drácula. É sabido que ele teve
um irmão mais velho chamado Mircea e um irmão mais novo chamado Radu. Sua
educação primária foi deixada nas mãos de sua mãe, uma nobre da Transilvânia, e
de sua família. Sua educação real começou quando em 1436 seu pai conseguiu clamar
para si o trono wallachiano matando seu príncipe rival do Clã Danesti,
Alexandru I. Seu treinamento foi o típico dado para os filhos da Nobreza pela
Europa. Seu primeiro tutor no aprendizado para a Cavalaria foi dado por um
guerreiro que lutou sob a bandeira de Enguerrand de Courcy na batalha de
Nicolopolis contra os Turcos. Dracula aprendeu tudo o que era demandado a um
Cavaleiro Cristão sobre guerra e paz.
Em 1442 Vlad tentou permanecer neutro quando os Turcos invadiram a Transilvânia. Os Turcos foram vencidos e os vingativos húngaros, sob o comando de John Hunyadi forçaram Dracul e sua família a fugir da Wallachia. Hunyadi colocou um Danesti, Basarab II, no trono wallachiano. Em 1443 Vlad II retomou o trono da Wallachia com suporte dos Turcos, desde que ele assinasse um novo tratado com o Sultão que incluiria não apenas o costumeiro tributo mas outros favores. Em 1444, para assegurar ao sultão de sua boa fé, Vlad mandou seus dois filhos mais novos para Adrianopla como reféns. Drácula permaneceu refém em Adrianopla até 1448.
Em 1444 o rei da Hungria, Ladislas Poshumous, quebrou a paz e enviou o exército de Varna sob o comando de John Hunyadi num esforço para manter os Turcos longe da Europa. Hunyadi ordenou que Vlad II cumprisse seus deveres como membro da Ordem do Dragão e súdito da Hungria e se juntasse à cruzada contra os Turcos. O Papa absolveu Dracul do compromisso Turco mas como político ainda queria alguma coisa. Ao invés de se unir às forças cristãs pessoalmente ele mandou seu filho mais velho, Mircea. Talvez ele esperasse que o sultão poupasse seus filhos mais novos se ele pessoalmente não se juntasse à crusada.
Os resultados da Crusada de Varna são bem conhecidos. O exército cristão foi completamente destruído na Batalha de Varna. John Hunyadi conseguiu escapar da batalha sob condições que acrescentaram pouca glória à reputação dos Cavaleiros Brancos. Muitos, aparentemente incluindo Mircea e seu pai, culparam
Hunyadi pela covardia. Deste momento em diante John Hunyadi foi amargamente hostil em relação a Vlad Dracul e seu filho mais velho. Em 1447 Vlad Dracul foi assassinado juntamente com seu filho Mircea. Aparentemente Mircea foi enterrado vivo pelos burgueses e mercadores de Tirgoviste. Hunyadi colocou seu próprio candidato, um membro do clã Danesti, no trono da Wallachia.
Recebendo a notícia da morte de Vlad Dracul, os Turcos libertaram Drácula e o apoiaram como seu candidato para o trono da Wallachia. Em 1448 Drácula conseguiu assumir o trono wallachiano com o suporte turco. Porém, em dois meses Hunyadi forçou Drácula a entregar o trono e fugir para seu primo, o prícipe da Moldavia, enquanto Hunyadi mais uma vez colocava Vladislav II no trono wallachiano.
Drácula permaneceu em exílio na Moldavia por três anos, até que o Príncipe Bogdan da Moldávia foi assassinado em 1451. O tumulto resultante na Moldavia forçou Dracula a fugir para a Transilvânia e buscar proteção com o inimigo da sua família, Hunyadi. O tempo era ideal; o fantoche de Hunyadi no trono wallachiano, Vladislov II, instituiu uma política a favor da Turquia, e Hunyadi precisava de um homem mais confiável na Wallachia. Consequentemente, Hunyadi aceitou a aliança com o filho de seu velho inimigo e colocou-o como candidato da Hungria para o trono da Wallachia. Drácula se tornou súdito de Hunyadi e recebeu os antigos ducados da Transivânia de seu pai, Faragas e Almas. Dracula permaneceu na Transilvânia, sob a proteção de Hunyadi, até 1456 esperando por uma oportunidade de retomar Wallachia de seu rival.
Em 1453 o mundo cristão se chocou com a queda final da Constantinopla para os Otomanos. O Império Romano do Leste que existiu desde o tempo de Constantinho, o Grande e que por mil anos protegeu o resto dos cristãos do Islã não existia mais. Hunyiadi imediatamente planejou outro ataque contra os Turcos.
Em 1456 Hunyadi invadiu a Sérvia Turca enquanto Drácula simultaneamente invadiu a Wallachia. Na Batalha de Belgrado Hunyadi foi morto e seu exército vencido. Enquanto isso, Drácula conseguiu sucesso em matar Vladislav II e tomando o trono da Wallachia, mas a derrota de Hunyadi tornou a sua proteção por parte deste questionável. Por um tempo ao menos Drácula foi forçado a apoiar os Turcos enquanto solidificava sua posição.
O reinado principal de Drácula se estendeu de 1456 a 1462. Sua capital era a cidade de Tirgoviste enquanto seu castelo foi erguido a uma certa distância nas montanhas perto do rio Arges.
A maior parte das atrocidades associadas ao nome de Drácula tomaram lugar durantes esses anos. Foi também durante esse tempo que ele lançou seu próprio ataque contra os Turcos. Seu ataque foi relativamente bem sucedido inicialmente. Suas habilidades como guerreiro e sua bem conhecida crueldade fizeram dele um inimigo temido. Entretanto, ele recebeu pouco apoio do seu senhor feudal, Matthius Corvinus, Rei da Hungria (filho de John Hunyadi) e os recursos wallachianos eram muito limitados para alcançar algum sucesso contra o conquistador da Constantinopla.
Os Turcos finalmente foram bem sucedidos em forçar Drácula a fugir para a Transilvânia em 1462. Foi reportado que a primeira esposa de Drácula cometeu suicídio pulando das torres do castelo de Dracula para as águas do rio Arges ao invés de se render aos Turcos. Drácula fugiu pelas montanhas em direção à Transilvânia e apelou para Matthius Corvinus por ajuda. Ao invés disso, o rei prendeu Dracula e o aprisionou numa torre. Dracula permanceu prisioneiro por 12 anos.
Aparentemente seu aprisionamento não foi nem um pouco oneroso. Ele foi capaz de gradualmente ganhar as graças da monarquia húngara; tanto que ele conseguiu se casar e tornar-se um membro da família real (algumas fontes clamam que a segunda esposa de Drácula era na verdade a irmã de Matthius Corvinus). A política à favor dos Turcos do irmão de Drácula, Radu, o Belo, que foi o príncipe da Wallachia durante a maior parte do tempo que Drácula foi prisioneiro, provavelmente foi um fator importante na reabilitação de Dracula. Durante seu aprisionamento Drácula também renunciou à fé Ortodoxa e adotou o Catolicismo. É interessante notar que a narrativa russa dessas histórias, normalmente favoráveis a Drácula, indicavam que mesmo durante sua prisão Drácula não desistiu de seu passa-tempo preferido: ele costumava capturar pássaros e camundongos que ele torturava e mutilava - alguns eram decapitados, esfolados e soltos, e muitos eram empalados em pequenas lanças.
O tempo exato do tempo de captura de Dracula é aberto para debates... Os panfletos russos indicam que ele foi prisioneiro de 1462 até 1474. Entretanto, durante esse tempo Drácula se casou com um membro da família real húngara e teve dois filhos que já tinham por volta de dez anos quando ele reconquistou a Wallachia em 1476. McNally e Florescu colocaram que o período de confinação de Dracula foi de 1462 a 1466. É pouco provável que um prisioneiro poderia se casar com um membro da família real. Correspondência diplomática durante o período em questão também parece apoiar a teoria de que o período real do confinamento de Drácula foi relativamente pequeno.
Aparentemente nos anos entre sua libertação em 1474 quanto ele começou as preparações para a reconquista da Wallachia Dracula viveu com sua nova esposa na capital húngara. Uma anedota daquele período conta que um capitão húngaro seguiu um ladrão dentro da casa de Drácula. Quando Drácula descobriu os intrusos ele matou o capitão ao invés do ladrão. Quando Drácula foi questionado sobre suas atitudes pelo rei ele respondeu que um cavalheiro não se apresenta a um grande governante sem as corretas introduções - se o capitão tivesse seguido a etiqueta não teria sofrido a ira do príncipe.
Em 1476 Drácula mais uma vez estava pronto para atacar. Drácula e o Príncipe Stephen Bathory da Transilvânia invadiram a Wallachia com uma força mista de transilvanianos, alguns burgueses wallachianos insatisfeitos e um contingente de moldávios enviados pelo primo de Drácula, Príncipe Stephen, o Grande da Moldavia. O irmão de Drácula, Radu, o Belo, havia morrido alguns anos antes e substituido por um candidato ao trono apoiado pelos Turcos, Basarab, o Velho, membro do clã Danesti. Enquanto o exército de Drácula se aproximava, Basarab e sua corte fugiram, alguns buscando proteção dos Turcos, outros para os abrigos das montanhas. Depois de colocarem Drácula de volta ao trono Stephan Bathory e as outras forças de Drácula voltaram à Transilvânia, deixando a posição tática de Drácula muito enfraquecida. Drácula teve muito pouco tempo para ganhar apoio antes de um grande exército Turco invadisse a Wallachia determinado a devolver o trono a Basarab. Aparentemente mesmo os plebeus, cansados das depredações do Empalador, abandonaram-no à sua própria sorte. Drácula foi forçado a lutar contra os Turcos com pequenas forças à sua disposição, algo em torno de menos de quatro mil homens.
Drácula foi morto em batalha contra os Turcos perto da pequena cidade de Bucareste em dezembro de 1476. Algumas fontes indicam que ele foi assassinado por burgueses wallachianos desleais quanto ele estava prestes a varrer os Turcos do campo de batalha. Outras fontes dizem que Drácula caiu vencido rodeado pelos corpos dos leais guarda-costas (as tropas cedidas pelo Príncipe Stephen da Moldavia permaneceram com Drácula mesmo após Stephen Bathory ter voltado à Transilvânia). Outra versão é a de que Drácula foi morto acidentalmente por um de seus próprios homens no momento da vitória. O corpo de Drácula foi decapitado pelos Turcos e sua cabeça enviada à Constantinopla onde o Sultão a manteve em exposição em uma estaca como prova de que o Impalador estava morto. Ele foi enterrado em Snagov, uma ilha-monastério localizada perto de Bucareste.
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