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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Trevas na Terra de Santa Cruz

O Cabeça de Sirene 


O avanço sobre o Paraguai é quase nulo, armas automáticas, mechas poderosos e os rios, ah os rios, se os lusitanos tiveram problemas com os francos a ponto de sua família real fugir para a Terra de Santa Cruz, esses problemas duvido eu, foram tão terríveis como lutar em locais onde chove quase todo dia, trincheiras rudimentares cavadas são facilmente inundadas e a noite coisas saem da mata para buscar os corpos que não foram recuperados, dormir é difícil e o stress é alto os soldados estão uma pilha de nervos ao ponto que brigas começam a ficar frequentes, no destacamento onde me coloquei tento remediar isso, ja passei tanto por tais situações que sei como ajudar a aliviar os ânimos, historias, bebidas improvisadas e de gosto melhor que o que temos recebido, ficariam surpresos como da pra destilar alguns tipos de bebidas com poucos instrumentos ou fermentar outros usando menos ainda.


Contei historias que aprendi com os índios, truques para disfarçar a luz de fogueiras e para caçar com mais facilidade apenas pedi para que ensinassem a todos que pudessem essas habilidades, enquanto bebíamos e falava sobre como da pra fermentar uma bebida dentro do tronco de uma bananeira, um dos soldados me falou algo que algumas vezes no passado eu mesmo já pensei, a chuva estava muito forte e os raios o que também me lembrou de um dia que ate agora não tinha registrado em meu diário, em parte porque não sei bem o que vi e em parte porque não sei o que pensar sobre o que vi.


- Deveríamos caçar todas essas criaturas e reduzir seus territórios a nada, tais monstros não podem mais nos incomodar - foi o que ouvi de meu aliado de armas.


- Não, infelizmente o coração humano pode gerar criaturas tão perversas e poderosas quanto aquelas que nos caçam no ermo - respondi a ele, e naquele dia contei historias sobre canibais amaldiçoados, sobre bruxos terríveis, sobre lobisomens e enquanto a chuva aumentava, contei a historia que agora escrevo.


Estava em fortaleza, ainda na época que estava revisando mechas que agora sei que viriam para essa guerra, pessoas estavam morrendo, sendo destroçadas e largadas na praia, na orla dos mangues e outros locais de difícil acesso, o numero de pessoas desaparecidas era maior entre indigentes mais ate trabalhadores de fabricas e policiais começavam a sumir e reaparecer mortos, por sorte não fui pego como um suspeito, pelo menos não oficialmente, estrangeiro, mesmo que as mortes tivessem ocorrido antes de minha vinda oficial, era irresistível me observar.



Mais irresistível ainda para o assassino que gostando de chamar atenção, deveria querer mostrar como a policia estava longe de entende-lo e como ele era esperto, num distrito ferroviário que levava os mechas para longe e trazia peças para as fabricas ao qual eu usava de atalho para ir ao quarto onde dormia, chovia muito naquela noite e fui atacado, o assassino tentou me surpreender aproveitando-se da chuva mais não fora rápido ou silencioso o suficiente, a punhalada que investiu contra mim nunca me atingiu, a luta foi patética, não precisei sacar arma alguma, em meio a tempestade troquei golpes com o assassino que nunca chegou a me tocar, enquanto esmurrava seu rosto mascarado, após alguns momentos de luta em meio ao temporal, o assassino cansado se apoiou em um poste de ferro onde no topo as sirenes que alertavam os trabalhadores ferroviários sobre os seus horários, me olhou com grande ódio recebendo de volta um olhar de desprezo por sua fraqueza, teria matado o pobre diabo nesse momento, já estava pronto para lhe quebrar o pescoço mais Tupã quis diferente e fez sua vontade presente, um raio atingiu o poste, houve uma explosão que me fez recuar e então o homem e o poste haviam caído, desfigurado e destroçado, com ferro do poste fundido a seu corpo pelo calor do raio, a policia que veio depois, chamada por mim, nunca viu nada parecido.


O corpo foi recolhido, enterrado como indigente, contavam as historias de quem foi assistir o enterro, falaram que ele foi enterrado com os restos do poste pois era impossível tirar sem mutilar mais ainda o corpo.


Um mês foi o tempo de paz que a cidade teve antes dos assassinatos retornarem mais sem corpos achados agora, as pessoas apenas sumiam e dessa vez não seguiam mais o padrão das vitimas, nas minhas ultimas noites em fortaleza tive um encontro na ferrovia, um monstro passou ao longe, tocando um som sinistro por suas bocas em forma de sirene, me escondendo entre vagões para me preparar para qualquer coisa, vi em meio a chuva que caia, um colosso passando pelo ermo de restinga de mata, a monstruosidade de pele queimada com corpo semelhante ao humano e ferro misturados, sem cabeça, com sirenes lhe servindo como tal acima de um fino pescoço, vi a fera se afastando sem nem ter me notado e não sei o que aconteceria se tivesse sido, ainda não tenho certeza do que vi como relatei, mais imagino que aquele era o assassino.