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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Brancalônia

 Contos de Fadas Estranhos

Contos de fadas raramente são coisas fofinhas e bonitas, nos acostumados com uma estética e forma Disney, coisas fofas que em certa dose servem para garotas se identificarem, para criar produtos, vender pelúcias e coisas assim. Também já se convencionou a falar que contos de fadas originais eram deveras sombrios, sim eram sombrios, o que muita gente nem nota, sequer pensa é que essas historias não eram para crianças porque o conceito de criança sequer era algo existente, se via as crianças como pequenos humanos ainda em desenvolvimento e de uma idade a partir de 7 a 10 anos, já eram "pessoas" e trabalhavam muitas vezes no oficio dos pais.

Isso é algo que costuma pegar as pessoas de surpresa, o conceito de infância é algo recente, na idade media crianças não eram pensadas como esses pequenos seres inocentes que precisam ser protegidos, eram pequenos adultos, não que você precise adotar isso em seu RPG, por favor, não sejamos tão reducionistas para apelar a argumentos rasos como "era assim na idade media portanto assim também no rpg". Apenas no século 17 a 18, graças ao Iluminismo, a infância foi reconhecida como esse período lúdico que precisa ser resguardado e a partir desse ponto começou a criar-se um recorte das experiencias na sociedade, sobre o que é ser adulto e o que é ser criança, só então contos de fadas começaram a mudar para se tornar historias fantásticas para crianças, essa modificação começando no século 19. E antes disso eles eram lendas, historias naturais principalmente da Itália que possivelmente são contadas desde o neolitico com o começo da formação das culturas por isso muitas historias não são pensadas tanto em sentido de moral e não possuem caráter pedagógico.

O Bom?

Muito bem, onde eu queria chegar com tudo isso? Expliquei esse ponto de vista para demarcar que o cenário de Brancalônia, tanto quanto o já abordado no blog e muito querido por mim, Dolmenwood, é um cenário de contos de fadas, um tanto cômico sim mais nem por isso menos curioso, contos de fadas parecem estar ressurgindo no RPG talvez como uma forma de ir mais longe do que Tolkien, ir um passo mais distante do que originalmente inspirou o RPG, ou seja, indo na fantasia que inspirou o velho professor.

A Grande Talha

Comentei da Itália como possível berço dos primeiros contos de fadas não por acaso, o escritor renascentista Giovanni Francesco Straparola, no livro "as noites agradáveis" compilou a primeira vez contos antigos como a Bela e a Fera e o Gato de Botas, e cem anos mais tarde Giambattista Basile escreve o Pentamerão com historias como a Cinderela, Bela Adormecida e Rapunzel, tudo isso muito antes dos irmãos Grim compilarem as historias folclóricas em seu livro. 

Esses contos de fadas antigos possuem muito o tom da fantasia spaguetti de Brancalônia, com heróis duvidosos ou no caso, canalhas, com acontecimentos estranhos e fantásticos e um apelo ao grotesco, não como um simples adjetivo, mais como apelo artístico e literário, com formas e fantasias bizarras que nos assustam, nos seduzem e instigam nossa atenção.

Aventureiros de Brancalônia como falado mais acima são conhecidos, e também agem, como canalhas, como fanfarrões de historias modernas de capa e espada, com ou sem o romantismo, existe uma grande pulsão de vida envolvendo esses aventureiros, trabalhando para poderem viver e eles vivem como nenhum herói de RPG consegue, nem o mais boêmio dos bardos das mesas, vivendo entre noites regadas a vinho, brigas de tavernas, fuga de prisões, perseguições por milicias. Povoado dor essas figuras únicas que parecem viver num eterno carnaval, salvo os momentos curtos em que precisam trabalhar para bancar a bebida, Brancalônia é um contos de fadas grotesco como dito antes embora no Brasil a melhor descrição seria "esculhambado".

Canalhas, Calhordas e Capirotos

Descrito como baixa fantasia pelo próprio livro, Brancalônia é tão difícil de explicar que Indus facilmente ao erro qualquer um, eu não estou imune de falar besteiras, e nem os criadores, pois não criaram um cenário de baixa fantasia e sim de alta fantasia.

O Mal?
Aqui os aventureiros vivem na Grande Talha, que é uma Itália fantástica, sob os restos do poderoso império Dragoniano, agora destruído pois a capital Plutônia foi devastada quando o inferno abriu uma fossa e devorou o local onde a capital ficava, agora, um pântano terrível e nefasto sobre a influencia da magia infernal e junto da queda do império vieram os primeiros Malebranques, ex-demónios que renunciaram ao inferno na ação descrita como a "grande recusa", renascendo na superfície com traços físicos demoníacos remanescentes, como garras ou asas, mas com a maioria dos conhecimentos e poderes perdidos.

Sem o império regiões se dividiram em feudos e a grande talha é agora disputada por nobres, donos de terras e senhores da guerra numa batalha que já dura mil anos, mais que não parece tão brutal assim quanto se fala, talvez pela natureza dos combatentes.

Os aventureiros são calhordas, canalhas que desejam trabalhar pouco, ganhar o quanto puderem, garantir a própria segurança e só então eles se preocupam se o trabalho vai ser bem feito, com um espirito de cowboy fora da lei ninguém se preocupa muito em ser herói, vencer na lábia, na pena, no engodo e no suborno ainda é vencer afinal, algumas passagens do cenário da a entender que heróis como nos livros de RPG, grandes campeões poderosos o suficiente para enfrentar as bestas do inferno, existem, só são raros e nunca são o jogador, se aparecer uma besta infernal na sua frente é melhor fugir, ou se conseguir mandar ela em outra direção para lidar com alguma outra ameaça.

Obras de Referencia

E o Feio?
Algumas mídias possuem o mesmo espirito do cenário, livros do Don Quixote, filmes italianos de cowboys como a trilogia dos dólares, as loucas loucas aventuras de Robin Wood, piratas do caribe e em busca do cálice sagrado também se qualificam como tal, mais curiosamente o primeiro nerdcast de rpg sobre Ghanor é quase uma campanha em Brancalônia, com heróis questionáveis que passam a perna num nobre e fogem quando são descobertos, não fosse o tom épico dado ao final da primeira campanha e ao tom sombrio da continuação, seria Ghanor a Brancalônia feita no Brasil bem antes do cenário italiano.

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