Powered By Blogger

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Masmorra Bagunçada

 O que o Lobisomem pode significar


De certa forma lobisomens não são bem vistos nem como monstros nem como ícones, sendo inegavelmente ícones de terror e cultura pop não são ignorados , ou melhor tão ignorados quanto outros monstros ignorados, mais sendo de difícil confecção, entendimento e apelo pequeno para as gerações mais novas eles usualmente são esquecidos, hoje mesmo em rpgs eles são relegados a "adversários dos vampiros" o que ocorre no excelente Lobisomem o Apocalipse, que enquanto obra mesmo tendo desenvolvido incrivelmente conceitos e uma mitologia rica, foi tão absurdamente competente que se apropriou do mito como se ele sempre tivesse sido aquela visão e não outra, o que faz muitos rejeitarem visões novas ou mesmo confundirem visões antigas com "ideias novas e ruins porque o tradicional já esta bom".


Lobisomens são lendas universais, ao qual se pode encontrar equivalentes em qualquer parte do mundo e mesmo variações em nosso próprio pais ou em outros, desde o lobisomem do sul do brasil que é próximo do europeu, com sua sina de maldição ate o do nordeste radicalmente diferente criatura quase demoníaca e muitas vezes manifestação de espíritos vis. Mesmo em países onde não possuem lobos a lenda é forte, variando bastante dependendo do conceito geográfico e muitas vezes substituindo o animal transformado e mesmo em tempos antigos antes de serem obras de magia ou dadivas do demônio, eles surgiram de uma maldição divina quando Lycaon tentou induzir Zeus ao canibalismo, e também em Roma a loba Capitolina deu leite a Romulo e Remo reforçando que nem sempre o lobo é visto como figura demoníaca.


"Implacável com o por do sol ele chega, não existe motivo para ele vir, não mais motivo que uma enchente, tornado, ou assassino psicótico aparecer, inevitável como a lua subindo no céu, o lugar dele é aqui, a hora dele é agora"



Embora seja fato que lobos não são figuras violentas e sanguinárias como nas lendas, sendo na verdade caçadores de animais silvestres e poucas vezes preferindo presas humanas, em verdade, dividimos espaço na cadeia alimentar com esses animais por muitos anos, caçando as mesas presas e vivendo em locais parecidos o que com certeza fez surgir em toda raça humana uma espécie de conexão, empatia ou ligação com esses animais, rendendo velhas metáforas sobre nossa natureza e a natureza dos lobos.


Tal aproximação foi interrompida com a ascensão do cristianismo e a demonização de tudo que não era da natureza cristã, durante a ascensão do cristianismo o mundo ocidental enlouqueceu com o surto absurdo de superstição, os casos encontrados de licantropia, vampirismo e bruxaria inclusive se confundiam sendo uma coisa ramificação da outra, na esperança de acabar com essas superstições, a igreja varreu tudo para debaixo do tapete da historia e tentou mantê-los ignorados, por meio de rituais, demonização de símbolos, abstinências e diversos meios de controlar e modificar a vontade da população, contudo raramente o que é suprimido morre, a repressão gera ódio que leva a revolta, fazendo com que esses costumes voltem de maneiras extremas para reagir ao que estão sofrendo, ou seja, o falso moralismo, instituído por diversas leis teológicas em uma sociedade alienada, gerou surtos após surtos de monstros, esse foi o grande tempo dos monstros na historia humana, representando medos, desejos, sensações demonizadas, individualidade, tudo que era visto como demoníaco, não por menos que quase toda pintura de demônio data dessa época e embora eles não tenham sobrevivido tanto tempo quanto as versões mitológicas principalmente as gregas, os monstros medievais existiam em maior numero e variedade que qualquer outra anterior.


Em tempos recentes contudo monstros encarnam aspectos, os vampiros acabaram encarnando sexualidade humana, os zumbis, são um arquétipo de movimentos sociais ou para discursão de movimentos que impactam uma sociedade inteira, o Frankenstein se tornou um andarilho ou mesmo herói melancólico e incompreendido abandonando o lado filosófico e se tornando mais sociológicos, o lobisomem contudo manteve grande parte de seu lado filosófico de encarnar a escuridão humana, mantendo em si a grande discursão dos monstros medievais, nosso demônio interior, filmes mais recentes contudo alguns lobisomens parecem ser encarnados como o oposto do individuo que se transforma, embora alguns possam forçar essa analogia remetendo ao mito moderno do dopelganger, imagino que seja improdutivo, esse monstro hoje em dia é visto como o oposto equivalente daquele individuo representado, de tal forma que um individuo maligno, teria um dopelganger gentil e bondoso, o maior exemplo de dopelganger que consigo pensar, embora sejam o mesmo ser, é do livro o medico e o monstro, é simples ver porque Hyde não seria Jekyl como lobisomem contudo. Enquanto o dopelganger é a consequência do ser, o lobisomem é implacável e impessoal, força da natureza, violenta e terrível para todos que são transformados, lembrem-se, não é "se você for um homem puro" e sim "ate mesmo um homem puro" no iconico poema do filme da universal de 41, não importa se você é um homem gentil ou uma alma sombria, você, eu , todos nos correremos a noite e desejaremos sangue quando o acônito florescer e a lua de outono brilhar plena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário