Carniceiros
Sombras crescem perto do cemitério velho, naquela cidade grande, uma grande cidade que poderia existir em qualquer lugar. Houve uma purga, bruxas foram mortas, sacerdotes negros descobertos e executados. Inocentes mortos por uma massa em busca de justiça? Culpados pegos apesar do caos generalizado dessa época? As cabeças nas estacas não se importavam mais, o tempo, o sol morrendo ao longe que deixava de tingir o céu de vermelho e dava lugar ao azul da noite não importava, tão pouco a vala comum fria onde seus corpos foram jogados próximos ao cemitério importava e muito menos os Ghouls que acordavam quando o frio da noite os despertava, deixando o solo antes aquecido, cavando em direção a vala as criaturas noturnas saiam em meio a pilhas de carne sorrindo.
— Chegamos rápido, que ótimo — Dizia um se jogando entre os corpos enquanto outro concordava com alivio.
— Sim chegamos, vamos comer antes que joguem cal viva nesses como fizeram antes — Enquanto o terceiro lamentava.
— Cal? Que desperdício, homens são sentimentais demais, uma vez que a alma vai embora que diferença faz a eles se são devorados pela terra, pelos vermes ou por nós?
As criaturas começavam a devorar carne, felizes de poderem se fartar por mais uma noite, mais uma vez sem fome, mais uma vez podendo dormir tranquilas, em meio ao banquete uma das criaturas removendo os cadáveres, por curiosidade para ver quantos havia, encontrava algo raro naquelas valas.
— Vejam o que encontrei. Uma inteira — Respondia puxando o corpo de uma mulher com apenas um ferimento centrado no coração, não fora decapitada, ou esquartejada como a maioria dos corpos ali no buraco, chamando atenção dos outros dois que iam roendo pernas ou braços mais iam na direção do outro.
— Jogaram uma inteira aqui, o que será que essa fez? — Dizia de bom humor pelo achado.
— Quem se importa? Coma-a primeiro se quiser — Mas eram interrompidos por setas de besta que atingiam os demais corpos, fazendo os três ghouls se retesarem como gatos acuados.
— Herói — Um deles falava temeroso e eriçado enquanto os outros dois respondiam entre rugidos.
— Frio — Rugia um deles
— Sem coração — Rugia outro enquanto o homem em armadura e elmo facilmente rearmava a besta.
— Recuem e não toquem nesse corpo, eu as proíbo proles do inferno, monstros da noite — Diante dele apontando a besta, os ghouls tendo ou não entendido a fala do homem, o homem tendo ou não entendido o que eles falaram, eles recuaram, agarrando pedaços de corpos para garantir a refeição e recuavam para longe temerosos enquanto o guerreiro saltava no fosso fétido e resgatava o corpo da mulher com um único ferimento, o levando para longe.
— Heróis não deixam nada para trás além de angustia — Um deles lamentava enquanto outro irritado respondia
— Devemos faze-lo pagar, vingança, vamos embosca-lo ele não vai lutar direito com o peso extra — Mas o terceiro acalmava os demais
— Deixe o herói recuar com seu premio, não vale a pena morrer pela comida, não quando temos tanto o que comer ainda, não quando os homens se dedicam tanto a matar, se dedicam tanto a nós alimentar — eles viam o homem sumir nas trevas antes de retornar ao buraco, conversando entre si.
— Lembram quando éramos menores? Dos contos que nossa mãe nos contava sobre a época da grande peste? — Falava um.
— Sim. Banquetes eram organizados, a fartura era tanta que não havia bocas o suficiente para comer e ninguém temia a espada dos heróis eles não lutavam por aqueles corpos da peste — Lamentava um deles deles por esse tempo não vivido.
— Vamos nos concentrar no hoje, vivemos uma época boa mesmo que amarga. Esses tempos de fartura inocente não foram para nós — Respondia a lamentação do segundo com resignação — Comemos agora e nos escondemos mais longe depois.
— Longe quanto? — Pergunta um deles preocupado.
— O suficiente para estarmos perto, quando o próximo massacre acontecer, mas longe o suficiente do próximo herói, pago em ouro para nós matar — E ali na escuridão eles se banquetearam aquela noite na vala comum.


Nenhum comentário:
Postar um comentário