Meu braço esta melhorando, já voltei assim que minhas forças
permitiram, chegar a fortaleza foi mais rápido do que eu esperava apesar dos
meus ferimentos, o trabalho para inspecionar as armas dos gigantes é minucioso
no entanto animador, contudo permitindo uma folga larga agora a noite, mesmo agora
eu posso ouvir o lamento dos cães na cidade e fico pensando, existem outros
como aquele que eu enfrentei por aqui? Possivelmente, sem que ninguém saibam
eles correm pela noite assombrando os viajantes.
Na noite em que pelejei com a fera minha força e coragem
foram suficiente para vencê-la contudo guerreiro algum conta apenas com isso e
os que contam rapidamente são superados pelo preparo dos adversários, batalha
requer conhecimento de si e do inimigo de tal forma que o resultado seja sempre
voltado em nosso favor, assim faz o sábio e assim deveria ser para todos os
aventureiros. Minhas pesquisas sobre a fera trombaram com muitas lendas
populares e poucas informações concretas, um indicio que talvez não sejam tão
numerosos o que eu creio pouco provável, visto as muitas formas como surgem as
feras que chamam de lobisomem.
O nome é enganoso, embora tenha haver com a lenda do velho
mundo de homens lobos, tais historias sobrevivem quase inalteradas no sul do
pais, tal coisa não ocorre aqui na terra do sol, o lobisomem ataca em qualquer
ponto, cidades ou zonas rurais, nada é um empecilho para sua presença, embora
as historias de lobisomens sejam tão antigas quanto a própria historia do
homem, evidenciado nos textos antigos da biblioteca real aqui em fortaleza,
eles pouco falam sobre as assombrações que correm por nossas estradas que pouco
tem haver com lobos, homens gigantes de pele muito amarelada, híbridos com
animais como jumentos, porcos, cachorros e bois são os mais descritos pelas
pessoas que sobreviveram a ataques das
criaturas, no sul se contam historias de pessoas que são amaldiçoadas por
incesto ou pecados dos pais, uma linha de castigo divino, por aqui os monstros
surgem de homens que para defender sua vida vão as ultimas conseqüências,
pactos com as trevas que vagam pela terra ou com demônios, para resguardar a
vida por mais alguns dias ou anos tirando a vida de outros seres humanos e se
alimentando dela.
O fato do lobisomem por aqui ser um homem doente que mata
para permanecer vivo é defendido por inúmeros viajantes, vaqueiros, cortadores
de madeira e catadores que castanha com quem falei no caminho para fortaleza,
onde homens amarelos e doentes se erguem de suas camas a noite, vestem suas
roupas ao avesso ou dão nós nela se livrando das mesmas, espojam-se em locais
onde o animal que irão se transformar espojou-se mais cedo e a transformação
ocorre, o ritual completo é apenas semi conhecido, onde encontrei um livro
obscuro que me foi vendido por um sujeito suspeito que sabia de minhas
pesquisas a qual prefiro não relatar nesse texto que tem caráter apenas
informativo e não um catalogo de magias negras.
Matar a fera não parece ser tão simples, embora meu
enfrentamento tenha sido relativamente fácil visto que consegui o enfrentar
sozinho, alguns contos falam que não existe cacete que lhe faça dano e bala que
lhe rompa o couro, sendo que laminas curtas e duras possuiriam alguma mística que
permitiria lhes cortar, contudo duvido dessa invulnerabilidade pois contos mais
atuais onde outras feras foram mortas relatam o caçador vitorioso a partir de
armas comuns ou disparos com balas benzidas.
O aspecto da transformação é sempre medonho, armas naturais
das criaturas são melhoradas o tamanho é amplificado e as características humanas
mantidas são fortalecidas, dependendo pouco do animal transformado mesmo a forma de um cachorro de rua se torna um monstro mortal, o aspecto demoníaco do lobisomem no nordeste é
aumentado por suas predileções com presas, sempre as mais indefesas possíveis apesar
do poder da fera, mulheres, velhos e crianças mesmo recém nascidos são as
vitimas preferidas, sabendo de tais detalhes hoje me pergunto se monstros horríveis
que me contaram em historias como “a cachorra magra” e “cabra dos chifres
longos” não eram em verdade lobisomens.