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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Trevas na Terra de Santa Cruz

Pesquisa Sobre Lobisomens

Meu braço esta melhorando, já voltei assim que minhas forças permitiram, chegar a fortaleza foi mais rápido do que eu esperava apesar dos meus ferimentos, o trabalho para inspecionar as armas dos gigantes é minucioso no entanto animador, contudo permitindo uma folga larga agora a noite, mesmo agora eu posso ouvir o lamento dos cães na cidade e fico pensando, existem outros como aquele que eu enfrentei por aqui? Possivelmente, sem que ninguém saibam eles correm pela noite assombrando os viajantes.



Na noite em que pelejei com a fera minha força e coragem foram suficiente para vencê-la contudo guerreiro algum conta apenas com isso e os que contam rapidamente são superados pelo preparo dos adversários, batalha requer conhecimento de si e do inimigo de tal forma que o resultado seja sempre voltado em nosso favor, assim faz o sábio e assim deveria ser para todos os aventureiros. Minhas pesquisas sobre a fera trombaram com muitas lendas populares e poucas informações concretas, um indicio que talvez não sejam tão numerosos o que eu creio pouco provável, visto as muitas formas como surgem as feras que chamam de lobisomem.

O nome é enganoso, embora tenha haver com a lenda do velho mundo de homens lobos, tais historias sobrevivem quase inalteradas no sul do pais, tal coisa não ocorre aqui na terra do sol, o lobisomem ataca em qualquer ponto, cidades ou zonas rurais, nada é um empecilho para sua presença, embora as historias de lobisomens sejam tão antigas quanto a própria historia do homem, evidenciado nos textos antigos da biblioteca real aqui em fortaleza, eles pouco falam sobre as assombrações que correm por nossas estradas que pouco tem haver com lobos, homens gigantes de pele muito amarelada, híbridos com animais como jumentos, porcos, cachorros e bois são os mais descritos pelas pessoas que sobreviveram  a ataques das criaturas, no sul se contam historias de pessoas que são amaldiçoadas por incesto ou pecados dos pais, uma linha de castigo divino, por aqui os monstros surgem de homens que para defender sua vida vão as ultimas conseqüências, pactos com as trevas que vagam pela terra ou com demônios, para resguardar a vida por mais alguns dias ou anos tirando a vida de outros seres humanos e se alimentando dela.


O fato do lobisomem por aqui ser um homem doente que mata para permanecer vivo é defendido por inúmeros viajantes, vaqueiros, cortadores de madeira e catadores que castanha com quem falei no caminho para fortaleza, onde homens amarelos e doentes se erguem de suas camas a noite, vestem suas roupas ao avesso ou dão nós nela se livrando das mesmas, espojam-se em locais onde o animal que irão se transformar espojou-se mais cedo e a transformação ocorre, o ritual completo é apenas semi conhecido, onde encontrei um livro obscuro que me foi vendido por um sujeito suspeito que sabia de minhas pesquisas a qual prefiro não relatar nesse texto que tem caráter apenas informativo e não um catalogo de magias negras.

Matar a fera não parece ser tão simples, embora meu enfrentamento tenha sido relativamente fácil visto que consegui o enfrentar sozinho, alguns contos falam que não existe cacete que lhe faça dano e bala que lhe rompa o couro, sendo que laminas curtas e duras possuiriam alguma mística que permitiria lhes cortar, contudo duvido dessa invulnerabilidade pois contos mais atuais onde outras feras foram mortas relatam o caçador vitorioso a partir de armas comuns ou disparos com balas benzidas.



O aspecto da transformação é sempre medonho, armas naturais das criaturas são melhoradas o tamanho é amplificado e as características humanas mantidas são fortalecidas, dependendo pouco do animal transformado mesmo a forma de um cachorro de rua se torna um monstro mortal, o aspecto demoníaco do lobisomem no nordeste é aumentado por suas predileções com presas, sempre as mais indefesas possíveis apesar do poder da fera, mulheres, velhos e crianças mesmo recém nascidos são as vitimas preferidas, sabendo de tais detalhes hoje me pergunto se monstros horríveis que me contaram em historias como “a cachorra magra” e “cabra dos chifres longos” não eram em verdade lobisomens.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Trevas na Terra de Santa Cruz


O Lobisomem

Algum tempo se passou desde que escrevi em meu diário, em minha defesa não existia uma boa razão para tal, dias comuns, vida parada, contudo  recentemente havia recebido um pedido de um amigo querido, padre Alberto que vivia hoje em fortaleza, na época das missões Alberto era Quingu, um poderoso nativo mais bem jovem, convertido a fé dos colonizadores ele mau teve contato com as crenças de seu povo, como todo índio Quingu vivia muito mais que os colonizadores e seu povo, tendo já varias décadas mais entre os brancos que entre os índios, era bem visto pela igreja e aceito pelos fieis embora nunca passaria de padre, ate onde sei ele não se importaria com isso pois o paraíso é para os pequenos não? Estou divagando e haja disposição para divagar em seu próprio manuscrito sobre a viagem, o favor era inspecionar armas que vieram alem mar, matadores do leste, poderosos gigantes de metal trazidos para servir ao império de Santa Cruz, não sou um dragão muito menos um belicista reconhecido, mais estudo historia de todo o velho continente e conheço suas maquinas embora nunca tenha ido ate ele, isso e o fato que já vi gigantes de ferro em minha juventude, eram essenciais para enfrentar alguns índios e os bandeirantes que os tinham eram ricos e reconhecidos, ou bandidos da pior espécie, embora um não excluísse o outro.

Estava eu em Pernambuco quando recebi a mensagem do serviço junto ao pedido particular do meu amigo padre, embora não mais bandeirante gosto de viajar sozinho e sentir novamente o chão embaixo dos meus pés, a viagem da Serra Talhada ate Fortaleza não seria tão longa quanto às demais que eu costumava fazer, contudo perto de juazeiro onde estou escrevendo no meu diário nesse momento, em tempos passados os monstros assombravam toda a região, agora eles se afastam das cidades grandes que são poucas mais famosas, dando as antigas criaturas dessa terra uma conotação de lenda, aqui no nordeste do pais contudo essas lendas criam carne e mesmo perto das cidades elas fazem vitimas,  foi a três dias na cidade de San José de Belmont que ganhei cicatrizes para juntar as muitas que já possuo, onde enfrentei o lobisomem.


O encontro com tal fera me fez pesquisar melhor sobre ela para caso novo encontro surja e me deu grande animação, apesar das feridas contraídas esse braço velho ainda possui força para ir contra os monstros dessa terra. Em San José eu fui preso pelos policiais locais enquanto andava pelas trilhas ao cair da noite, não pretendia eu parar na cidade, contudo aqui estamos, o infeliz acontecimento se devia ao fato de haver algo atacando e perseguindo as mulheres da região e então um estrangeiro, mestiço e armado surge como que mandado pelos demônios da mata para servir de bode expiatório, perfeito demais, um desequilibrado , um tarado, um doido varrido destes que andam pelas madrugadas juntando terra de cemitério, sobre isso conto numa outra oportunidade, mesmo porque as vitimas ate agora foram apenas mulheres, uma fera com desejo de sangue não seria seletivo assim.

De nada adiantava falar para os policiais meu serviço? Minha possição como estudioso? Eu era apenas um caboclo idiota como todos os outros, um dia passei na cadeia, muito cedo desisti de explicar ao grupo de mazombos meu caso, não iriam ouvir apenas ignorar, um deles contudo me parecia ser razoável, cabo Pereira, que diferente do delegado chamado Serafim, me contou e acreditava na historia de lobisomem que lhes apresentei, contudo acreditava o cabo que era eu o monstro, pereira, um homem simples mais de bons instintos ao me olhar sabia que eu não era um idiota louco, que eu já tinha matado homens, que eu já tinha visto homens morrerem, por vezes me pergunto se isso é reflexo da magia que nasce no sangue dos colonizadores ou se é de fato um instinto ou intuição, infelizmente nunca fui amigo próximo de algum mago para conseguir descobrir, talvez no futuro.

Era o cair da noite e apenas dois dos quatro soldados daquele pequeno quartel ficaram para me vigiar, o delegado Serafim ate achou que seria demais visto que eu tinha me mostrado bem comportado, já havia sido derrotado, então uma senhora chamada Nina vinha exasperada, o lobisomem havia sido avistado por ela na encruzilhada do sitio do Sabiá, imaginando ser inútil contudo eu precisava falar, me apresentei como voluntario ao cabo Pereira, que eu lutaria contra o monstro ali, o cabo para minha surpresa me ouviu contudo não me devolveu meu revolver, apenas meu machado foi devolvido, e andamos ate o sitio, caminhada noturna assustadora, mesmo eu sentia receio sem minhas armas, os homens atrás de mim ainda que armados estavam a beira de entregarem-se, não eram guerreiros nunca mataram, nunca puseram sua vida em risco, quando parei todos ao ouvir muitos latidos vindo do mesmo local eles pararam apontando as armas para todos os lados, longos foram os segundos enquanto eu tentava adivinhar de onde vinha o som e Pereira me disse – Vamos, são os cachorros do sitio – contudo eu o corrigi – Não são cachorros – e de fato não o eram, apertei o passo ate sentir o cheiro de carniça muito forte no ar, terra maldita, a morte fica impressa em locais de matança e quando o mal se manifesta ela ressurge como um lembrete de que essa terra possui grande riqueza mais os perigos são igualmente altos.

Os soldados estavam em pânico ao verem na encruzilhada perto do sitio o corpo de um dos jagunços eviscerado. Como que saído das próprias sombras um enorme animal me atacou, um tipo de cão com um corpo parcialmente primata e felino, suas garras arranharam meu estomago e seus dentes cravam-se fundo no meu braço, para minha sorte ou azar, os homens atiraram e não houve disparo, as armas haviam falhado, sozinho eu ergui o machado e cravei ele com força no pescoço da fera enquanto empurrava-o contra o chão ao me jogar sobre ele, meu peso e força subjugou a do monstro e eu empurrava meu braço contra sua  mandíbula enquanto sentia as garras dele rasgando minha carne, um barulho de esgar e um som de osso quebrando indicou a mandíbula da criatura se soltando mesmo que o custo disso tenha sido meu braço ter ficado quase em tiras e com a mão livre alarguei o corte do machado no pescoço da fera alem de lhe dar algumas machadadas no peito, não me recordo quantas, a fera me lançou para traz e correu, embora seus ferimentos fossem letais o monstro guiado por vigor sobrenatural correu mais do que qualquer um de nos pudesse o acompanhar, fui arrastado de volta a delegacia onde recebi cuidados espartanos, contudo fiquei aliviado de saber que não me deixariam morrer, e em revista as armas do local descobriram que todas inclusive meu revolver tiveram os gatilhos martelados, sabotagem, o caso se resolveu sozinho quando um dos moradores locais veio desesperado pela manha relatar um assassinato, o corpo do delegado Serafim apareceu destroçado e com o queixo quebrado.