O Lobisomem
Algum tempo se passou desde que escrevi em meu diário, em
minha defesa não existia uma boa razão para tal, dias comuns, vida parada,
contudo recentemente havia recebido um
pedido de um amigo querido, padre Alberto que vivia hoje em fortaleza, na época
das missões Alberto era Quingu, um poderoso nativo mais bem jovem, convertido a
fé dos colonizadores ele mau teve contato com as crenças de seu povo, como todo
índio Quingu vivia muito mais que os colonizadores e seu povo, tendo já varias décadas
mais entre os brancos que entre os índios, era bem visto pela igreja e aceito
pelos fieis embora nunca passaria de padre, ate onde sei ele não se importaria
com isso pois o paraíso é para os pequenos não? Estou divagando e haja
disposição para divagar em seu próprio manuscrito sobre a viagem, o favor era
inspecionar armas que vieram alem mar, matadores do leste, poderosos gigantes
de metal trazidos para servir ao império de Santa Cruz, não sou um dragão muito
menos um belicista reconhecido, mais estudo historia de todo o velho continente
e conheço suas maquinas embora nunca tenha ido ate ele, isso e o fato que já vi
gigantes de ferro em minha juventude, eram essenciais para enfrentar alguns índios
e os bandeirantes que os tinham eram ricos e reconhecidos, ou bandidos da pior espécie,
embora um não excluísse o outro.
Estava eu em Pernambuco quando recebi a mensagem do serviço
junto ao pedido particular do meu amigo padre, embora não mais bandeirante
gosto de viajar sozinho e sentir novamente o chão embaixo dos meus pés, a
viagem da Serra Talhada ate Fortaleza não seria tão longa quanto às demais que
eu costumava fazer, contudo perto de juazeiro onde estou escrevendo no meu diário
nesse momento, em tempos passados os monstros assombravam toda a região, agora
eles se afastam das cidades grandes que são poucas mais famosas, dando as antigas
criaturas dessa terra uma conotação de lenda, aqui no nordeste do pais contudo
essas lendas criam carne e mesmo perto das cidades elas fazem vitimas, foi a três dias na cidade de San José de
Belmont que ganhei cicatrizes para juntar as muitas que já possuo, onde
enfrentei o lobisomem.
O encontro com tal fera me fez pesquisar melhor sobre ela
para caso novo encontro surja e me deu grande animação, apesar das feridas contraídas
esse braço velho ainda possui força para ir contra os monstros dessa terra. Em
San José eu fui preso pelos policiais locais enquanto andava pelas trilhas ao
cair da noite, não pretendia eu parar na cidade, contudo aqui estamos, o
infeliz acontecimento se devia ao fato de haver algo atacando e perseguindo as
mulheres da região e então um estrangeiro, mestiço e armado surge como que
mandado pelos demônios da mata para servir de bode expiatório, perfeito demais,
um desequilibrado , um tarado, um doido varrido destes que andam pelas
madrugadas juntando terra de cemitério, sobre isso conto numa outra
oportunidade, mesmo porque as vitimas ate agora foram apenas mulheres, uma fera
com desejo de sangue não seria seletivo assim.
De nada adiantava falar para os policiais meu serviço? Minha
possição como estudioso? Eu era apenas um caboclo idiota como todos os outros,
um dia passei na cadeia, muito cedo desisti de explicar ao grupo de mazombos meu
caso, não iriam ouvir apenas ignorar, um deles contudo me parecia ser razoável,
cabo Pereira, que diferente do delegado chamado Serafim, me contou e acreditava
na historia de lobisomem que lhes apresentei, contudo acreditava o cabo que era
eu o monstro, pereira, um homem simples mais de bons instintos ao me olhar
sabia que eu não era um idiota louco, que eu já tinha matado homens, que eu já tinha
visto homens morrerem, por vezes me pergunto se isso é reflexo da magia que
nasce no sangue dos colonizadores ou se é de fato um instinto ou intuição,
infelizmente nunca fui amigo próximo de algum mago para conseguir descobrir,
talvez no futuro.
Era o cair da noite e apenas dois dos quatro soldados
daquele pequeno quartel ficaram para me vigiar, o delegado Serafim ate achou
que seria demais visto que eu tinha me mostrado bem comportado, já havia sido
derrotado, então uma senhora chamada Nina vinha exasperada, o lobisomem havia
sido avistado por ela na encruzilhada do sitio do Sabiá, imaginando ser inútil contudo
eu precisava falar, me apresentei como voluntario ao cabo Pereira, que eu
lutaria contra o monstro ali, o cabo para minha surpresa me ouviu contudo não
me devolveu meu revolver, apenas meu machado foi devolvido, e andamos ate o
sitio, caminhada noturna assustadora, mesmo eu sentia receio sem minhas armas,
os homens atrás de mim ainda que armados estavam a beira de entregarem-se, não
eram guerreiros nunca mataram, nunca puseram sua vida em risco, quando parei
todos ao ouvir muitos latidos vindo do mesmo local eles pararam apontando as
armas para todos os lados, longos foram os segundos enquanto eu tentava adivinhar
de onde vinha o som e Pereira me disse – Vamos, são os cachorros do sitio –
contudo eu o corrigi – Não são cachorros – e de fato não o eram, apertei o
passo ate sentir o cheiro de carniça muito forte no ar, terra maldita, a morte
fica impressa em locais de matança e quando o mal se manifesta ela ressurge
como um lembrete de que essa terra possui grande riqueza mais os perigos são
igualmente altos.
Os soldados estavam em pânico ao verem na encruzilhada perto
do sitio o corpo de um dos jagunços eviscerado. Como que saído das próprias sombras
um enorme animal me atacou, um tipo de cão com um corpo parcialmente primata e
felino, suas garras arranharam meu estomago e seus dentes cravam-se fundo no
meu braço, para minha sorte ou azar, os homens atiraram e não houve disparo, as
armas haviam falhado, sozinho eu ergui o machado e cravei ele com força no
pescoço da fera enquanto empurrava-o contra o chão ao me jogar sobre ele, meu
peso e força subjugou a do monstro e eu empurrava meu braço contra sua mandíbula enquanto sentia as garras dele
rasgando minha carne, um barulho de esgar e um som de osso quebrando indicou a mandíbula
da criatura se soltando mesmo que o custo disso tenha sido meu braço ter ficado
quase em tiras e com a mão livre alarguei o corte do machado no pescoço da fera
alem de lhe dar algumas machadadas no peito, não me recordo quantas, a fera me
lançou para traz e correu, embora seus ferimentos fossem letais o monstro
guiado por vigor sobrenatural correu mais do que qualquer um de nos pudesse o
acompanhar, fui arrastado de volta a delegacia onde recebi cuidados espartanos,
contudo fiquei aliviado de saber que não me deixariam morrer, e em revista as
armas do local descobriram que todas inclusive meu revolver tiveram os gatilhos
martelados, sabotagem, o caso se resolveu sozinho quando um dos moradores
locais veio desesperado pela manha relatar um assassinato, o corpo do delegado
Serafim apareceu destroçado e com o queixo quebrado.
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