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quinta-feira, 21 de junho de 2018

O Mestre da Masmorra

Elfos, Fluides de Gênero e Masculinidade Toxica 


Porque eu não gosto de Elfos

Me lembro de meu primeiro contato com RPG, isso já faz quase uma vida, talvez meia vida, eu mau queria saber das regras da primeira caixa de rpg que eu li, queria jogar, não importava as regras a melhor coisa era contar minha historia, tempos diferentes aqueles, lembro-me de como atravessar um rio com uma canoa parecia ser a coisa mais perigosa, desafiadora e exitante do mundo inteiro. A raça com a qual eu gostei mais e queria fazer um pj, ou vários npcs dela foi de cara os anões, eles não possuíam uma descrição tão boa e um detalhamento tão agradável de se ler, não davam tantas ferramentas boas para fazer um anão bom como um elfo, mais o estereotipo dos anões me atraiu, o machão? não o herói resistente que consegue segurar uma montanha nas costas pelo grupo, tempos diferentes, sabemos hoje que qualquer personagem pode ser assim e que as vezes a graça é interpretar um personagem fraco que se torna forte por superar seus problemas, sejamos sinceros contudo, RPG raramente é sobre desenvolvimento emocional dos personagens, usualmente é apenas sobre níveis, sobre matar dragões, rastejar em masmorras e catar tesouros, os elfos contudo foram inicialmente a raça que eu menos me via jogando devido ao estereotipo do mago, ou guerreiro mago, a alta ligação com a magia, porque eu era adepto da ideia que o ferro é para homens de verdade e a magia para as garotas? eu ate ouvi isso já, mais não , particularmente eu não gosto muito de magia, essa limitação de visão ate mesmo já me prejudicou no passado onde eu não conseguia narrar certas aventuras tão bem quanto narrava outras, isso meio que me acompanha ate hoje, por mim todos os conflitos mortais se resolveriam pelas espadas, no final da masmorra ao invés de um dragão esperando haveria um exercito, no lugar de um cultista maligno tentando reviver o deus ancestral, eu criava o inimigo que juntava um exercito para dominar o mundo ele mesmo, essa fascinação pelo metal, pela batalha, me afastava ainda mais dos elfos e me aproximava dos anões, com o tempo comecei a ouvir de vários jogadores com os quais eu tive mesas as frases "elfos são todos viados" ou algo como "elfos são feitos para serem machões, mais os jogadores não entendem e só fazem bichas", sendo sincero eu raramente via um elfo que não fosse o mais hétero possível, ate os jogadores de anões conseguiam momentos de alegria, genuína preocupação e sentimentalismo forte, apegando-se com grande paixão ao seu clã, a sua arte e a sua filosofia, uma cena onde um anão chora pela morte dos companheiros em batalha, ou pela perda da arte de seu povo nunca é vista como "gay" mais os jogadores de elfo? protagonizavam cenas de poder masculino que chegavam a dar inveja a estalone, como nunca se permitir um segundo de fraqueza, onde por exemplo, uma aventura em que narrei para grupos diferentes mais sendo essencialmente a mesma, com goblinoides no começo da mesma tomando a cidade dos jogadores, os anões se permitiam pelo menos uma noite para se lamentar, os elfos usavam a mesma noite para jurar vingança aos inimigos, quando encurralados em um cerco os anões se preparavam para o combate entoando suas canções de morte, os elfos se preparavam para levar o máximo de inimigos com eles, essas ideias tão conflitantes me ajudaram a criar os elfos que uso em meu cenário especialmente falando, em que suas tendencias são bem mais próximas dos orcs para quem tem costume de ler sobre essas literaturas.


"Corellon tomando o olho de Bolg,fazer coisas incríveis é diferente de ser machão"



Masculinidade toxica disfarçada

Os elfos serem "bichas" é um estereotipo velho, um estereotipo que a maioria dos jogadores se esforça muito para quebrar tanto que interpreta seus elfos como personagens de filmes de ação de segunda ate mesmo em suas criações próprias, sem contudo desapegar da ideia de povo superior, esse excesso de arrogância sem sentido me afastava ainda mais desses seres, essa masculinidade toxica dos elfos feita pelos jogadores que os interpretam, sim, pois quantas vezes você já leu, ouviu ou mesmo escreveu frases como essas "os elfos são superiores a todas as outras raças na sociedade" ou "os elfos são perfeitos ou próximos da perfeição", "os elfos possuem os sentimentos mais altivos e desenvolvidos" "os elfos são o ápice da evolução humanoide", eles sempre são os melhores magos, os melhores guerreiros, os melhores artesãos, os melhores engenheiros e os seres mais tecnologicamente desenvolvidos do mundo, porque? porque eles precisam ser, porque são elfos, não é permitido a eles ser menos que perfeitos, não é permitido a eles terem fraquezas ou serem inferiores em algum aspecto, troque agora a palavra elfo, pela palavra homem em todas as frases acima, e você começa a entender o que eu queria dizer com masculinidade toxica. O mais engraçado é que isso se da quase que totalmente por causa da visão dos jogadores sobre os elfos, claro, esses jogadores se tornam mais tarde autores de cenário e colocam essa visão como verdade em seus próprios mundos de criação, perpetuando ideias esdruxulas que tornam essa raça cada vez mais desinteressante não apenas aos meus olhos como aos olhos de outros jogadores, talvez por isso eu tenha feito meus elfos tão diferentes, longe de mim dizer que são melhores que os dos outros, ou que são a melhor encarnação da raça em todo o rpg, eles não são perfeitos, mais talvez por isso mesmo eu goste mais deles.

O Mito dos elfos bichas

você deve estar agora mesmo pensando que eu estou caducando, afinal onde já se viu chamar os elfos de machistas? na maioria dos cenários eles possuem panteão feminino, versados em poesia e arte alem disso se são machistas de onde saiu a lenda dos elfos bichas? agora pequeno leitor, eu não falei que os elfos são machistas, falei que os jogadores que os interpretam colocam uma dose enorme de masculinidade toxica neles, quanto ao mito dos elfos bichas, esse surgiu em Forgoten Realms assim como 90% de todos os estereótipos de jogos de RPG modernos ou antigos, os elfos desse cenário eram seres mágicos com natureza inconstante, como fadas em cenários diferentes (ou no próprio forgotten realms) seus corpos eram compostos principalmente por magia, quase divinos os elfos não eram nem homens nem mulheres, eles eram o que eles queriam ser, e mudavam sempre que queriam, meio que é assim ate hoje com os elfos que são abençoados por corellon larethian que era satisfeito
com a raça dos elfos sendo dessa forma, a mudança veio através de Lolth, conhecida posteriormente como a traidora, deusa dos elfos negros, lolth implantou na sociedade desses seres a ideia de que cada gênero possuía um papel, que não era certo você fluir entre os gêneros ou possuir mais de um deles, que você deveria assumir seu lugar e seu papel na sociedade e só assim ela iria funcionar, discurso familiar? se você tem um paladino que por algum motivo odeia gays, bom, você já sabe de onde surgiu essas ideias em forgoten, cuidado para não estar louvando a divindade errada. Tal discurso entristeceu Corellon que se afastou dos elfos pois eles tinham caído na lábia de Lolth e deixaram de ser o povo que um dia foram, como falado mais acima apenas alguns elfos, tanto entre os drows quanto entre as outras raças de elfos possui o que chamam de "dom de corellon" que é a capacidade de alternar de gênero segundo sua vontade a cada intervalo longo de descanso, elfos assim claro, são mortos rapidamente entre os drows que possui uma sociedade misândrica a manter, sendo aqueles indivíduos perigosos apenas por existirem. Essa lore criou entre os jogadores um sentimento de repulsa pelos elfos por que eles "poderiam ser mulheres se quisessem" e esse sentimento se tornou preconceito, que se tornou depois a masculinidade toxica que eu tanto vi nas minhas mesas, coisas parecidas eu vi também em changeling o sonhar.

"Link com roupa Gerudo, amado por uns odiado pela maioria"


Porque você não deveria fazer seu elfo machão

Seu personagem de RPG é seu avatar no mundo de jogo, ele é feito da maneira como você deseja que ele seja feito, não sou eu nem ninguém que vai lhe dizer como jogar, como fazer seu personagem e o que é proibido ou não, contudo uma das coisas mais belas de um mundo de fantasia com diversos povos diferentes é a possibilidade de celebrar a diferença, como os anões não precisam provar que são machões acabam permitindo os jogadores interpretarem camadas de sentimentos muito mais intensas que teoricamente, um povo mais ligado as próprias emoções raramente consegue despertar nos jogadores, atualmente tenho tido um jogador que tem me desafiado em meus conceitos sobre elfos, se estivesse narrando para um anão talvez o desafio não fosse tão grande assim, contudo não posso dizer que não é animador afinal é algo diferente, um de seus personagens diferentes era um necromante transgênero chamado Lanriel, apaixonado pela magia tétrica da necromancia ele agia com uma avidez impressionante longe do estereotipo do papa defunto que essa classe costuma atrair, um necromante diferente de muitos que eu vi em meus anos de mestre onde atraia desde estereótipos do bruxo "dumau" ao cientista maluco, enfim, viva a diferença.

"Radovith vilão de the witcher 3, seu vicio? não consegue aceitar o mundo como ele é e persegue quem ele não entende"

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