A fantasia como RPG e gênero
As pessoas, inclusive no RPG, costumam desprezar a fantasia, já vi e participei de conversas onde os gêneros tanto literários como os usados em RPG eram colocados como símbolos de maturidade, sobretudo na época de maior popularidade de vampiro a mascara, a fantasia foi vista como infantil e atrasada, ate mesmo alguns gêneros de horror foram vistos assim, sendo o horror pessoal e político de vampiro a mascara “superiores” ou “para gente madura”, no entanto o fantástico esta presente em todo RPG e ele envolve uma característica tanto na leitura sobretudo na pratica do jogo de interpretação, que é conhecida como “subcriação” ou “co-criação” e como a fantasia reflete o aspecto humano da luta para superar dificuldades.
Claro que alguém argumentaria que o vampiro a mascara citado no texto também é fantástico, vampiros existem afinal, contudo vampiro existe num realismo mágico metafórico onde grande parte do que é apresentado também serve como alegoria para algo na nossa realidade, as idéias desprezadas eram as de fantasia clássica ou alta fantasia, de espadas, magia e dragões, esses tidos como infantis enquanto as alegorias de vampiro foram alçados como símbolo de status, com tantos elogios, as vezes exagerados muitas vezes merecidos, colocados pela Dragão Brasil antigamente, jogadores de vampiro a mascara se viram como a nobreza do RPG ou pelo menos como pessoas serias ao redor de crianças, tal foi o efeito que me pergunto se ele não ajudou a derrubar o meu RPG temático favorito, changeling o sonhar, o esnobismo contra os contos de fada já tem longa data, mais velho que qualquer um de nós lendo esse texto hoje, ate onde me vem a mente ate os irmãos Grimm passaram por esse descrédito, sua obra catalogando contos folclóricos foi reduzida a historia infantil afinal, mais a fantasia não é sobre fadinhas e coisas belas, historias acontecidas em locais fantásticos onde tudo é possível são a base do RPG e portanto devem ser vistas com seriedade, entrar em Arton, Toril, Karameikos, Ravenloft, não é o simples ato de um faz de conta e sim realizar o ato de subcriação no qual formamos um mundo dentro de nossa realidade mais ampla e esse mundo que imaginamos sempre será mais belo, maior, mais selvagem, feroz, brilhante ou sinistro do que as palavras são capazes de descrevê-lo, a fantasia não é um apanhado de palavras, uma descrição intrincada, não, a respiração quente de um dragão, a majestade de uma ilha flutuante a imponência de um colosso divino petrificado é indescritível, por isso precisamos da capacidade de subcriar, os mundos nos quais jogamos nunca são exatamente aqueles que os criadores fizeram e sim versões criadas em nossa mente nos quais podemos visitar, mundos criados com suas próprias regras, leis, interações e formas de vida, através da capacidade de subcriar vivemos situações alem daquelas capazes de serem contidas em palavras estreitas, não importa o quanto o mestre seja bom em aclimatar o jogo, o quanto o livro seja bom em descrições, detalhes como os cheiros, cor, luz, são todas pensadas pelo jogador ou leitor que esta criando o mundo junto com o mestre ou o livro e essa é a razão das adaptações feitas em filmes muitas vezes parecerem vazias ou sem alma, pois nossa visão é maior do que qualquer cinema jamais será.
A subcriação é uma capacidade filosófica impressionante ao qual a mente faz uso quando lemos sobre outras terras ou outros mundos, o brilho do fantástico muitas vezes esta em seus inimigos incríveis e terríveis, nos dragões, nos orcs, senhores da escuridão e imperadores cruéis, pois esses são recipientes onde despejamos nossos inimigos corriqueiros , nossos medos, falhas, arrependimentos e por isso é tão fácil gostarmos de Harry Potter, Frodo, Conan, Percy Jackson, tais heróis se movem com o pensamento de todos os homens a respeito do destino da vida e dos esforços humanos, e assim também são nossos heróis dos nossos contos de RPG, existe algo na fantasia que anima o espírito e nos inflama para luta, algo que não esta nas palavras mais escondido na historia, talvez nem isso e sim na sua atemporalidade, a fantasia nos conta algo sobre a humanidade, tão verdadeiro para os romanos em suas cidades de pedra quanto para nos presos em cubículos de empresas a frente de computadores, a fantasia nos conta que não importa os monstros que enfrentemos, devemos lutar ate derrotá-lo.
Claro que já ouvi falar mau do escapismo da fantasia, a leitura em si é uma diversão e passatempo mais poucos gêneros são mais escapistas que o horror, ficção cientifica ou a fantasia, contudo existe grande beleza nesse escapismo, nos vermos em escolas de magos, naves espaciais imensas ou desbravando masmorras em busca de tesouros é o ambiente normal do RPG afinal não é? E participar de mundos tão reais e legítimos que da verdadeiramente vontade de visitá-los é belo. Escape da fantasia não é algo desprezível, não é algo desaprovavel, é para um homem que se encontra preso, vergonhoso o desejo de fugir e se encontrar num lugar melhor?porque seria então vergonhoso o desejo nosso de, uma vez preso a tristeza ou mesmo monotonia a vontade de pilotar naves ou brandir espadas e conquistar grandes vitorias? E se mesmo assim existir alguém que puxe a cartada do “isso não ensina nada a ninguém” apenas através da fantasia e de suas ferramentas, podemos conhecer o mau sem vivenciá-lo, para que possamos identificá-lo um dia quando for necessário.