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quinta-feira, 12 de julho de 2018

Era dos Dragões

O Maior Artesão Vivo

De uma viagem difícil de reconhecimento a princesa Hilda, uma das filhas de Magni conta durante a festa que foi feita para celebrar seu retorno, a dura aventura que teve.

O meu povo estava sofrendo com as investidas dos dragões, dos mortos vivos que despertaram sem mente e sem senso de lealdade, apenas com raiva, dos ataques dos demônios, da corrupção arcana que tem se espalhado cada vez mais, os anões perdiam a força a cada dia que se passava, cada dia mais perdidos, era difícil não acreditar nos deuses quando um deles mandava constantemente forças demoníacas a sua porta para ver seu fim, contudo eu era uma descrente no criador, como poderia Oberon nos amar e nos deixar a merce de seu irmão maligno? se eramos seus filhos porque não nos ajudar? porque ao menos não se revelar? as historias sobre a magia que separou os mundo não me convenciam, um dia os demônios inferiores, fracos em força mais numerosos o suficiente para afogar uma fortaleza no próprio sangue, pararam de vir, historias dos patrulheiros da montanha falavam sobre a fumaça que subia na chaminé da terra. "Alguém acendeu o fogo" diziam alguns com esperança renovada.

O covil de onde os demônios brotavam era antes uma fortaleza antiga, uma das primeiras a serem criadas quando os anões nasceram, meu pai esta a beira do descanso final e não podia ir ate la, cabendo a mim ajudar nosso povo, investigar o acontecimento, uma pequena tropa foi criada para tal, liderando o grupo eu ia para o que achava ser uma perda de tempo, uma erupção matou os demônios, sorte para nos, apenas isso, um pouco de sorte pra variar.

A muito tempo meu povo não percorria aquelas câmaras em direção as terras queimadas, tuneis tão escuros e desolados que não ouve um soldado que não tremesse de medo na primeira noite de viagem, o ar estava impregnado com fuligem e cheiro de enxofre, talvez algo mais também, isso não nos pararia, somos anões, pouca coisa pode nos parar, na segunda noite nossas montarias haviam morrido, envenenamento pelo ar talvez, na terceira teríamos carne para comer.

A quarta noite se passou sem grandes alegrias, nossos batedores não voltavam, havia um cheiro de magia antiga no ar, mesmo com meu pouco conhecimento mistico eu sabia o que queria dizer, crias dos dragões, ninguém viu ainda um dragotauro contudo e ninguém queria falar aquela palavra em voz alta com medo de invocar os monstros.

A quinta noite veio conosco chegando a beira de uma cidade antiga, rochedos negros rodeavam um enorme abismo que separava a caverna de onde viemos da cidade, uma unica ponte longa sob um rio de lava que não deveria existir pois não existia no mapa era a unica passagem, tanto de volta quanto de ida, a arquitetura dos anões era incrível, isso eu me orgulhava, a rocha da ponte não sedia , sua estrutura carbonizada aguentava o calor da lava, algum poder mistico deveria ainda proteger essa estrutura depois de centenas de anos, a primeira investida aconteceu.

Deixando as cavernas uma miríade de dragotauros avançou sobre nos com grande furria, iriamos morrer, mais morreríamos lutando, erguemos os escudos de ferro e o choque de metais começou, as investidas de cavalaria dos dragotauros com suas lanças pesadas e suas poderosas magias, não podiam romper nossos escudos de metal puro, pesados alem do uso por qualquer um alem de nos mesmos, nossas armas, poderosas como eram partiam escamas, carne e ossos com igual facilidade, contudo os minutos da batalha se alongavam virando horas e a luta não parava, seriamos superados pelo cansaço, um a um nossos irmãos foram caindo, a parede de escudos quebrando, não tínhamos números para fazer revezamento ali, não tínhamos números para lutar como deveríamos, quando ouvíamos o rugir da grande fera nos tuneis, vimos o laranja de suas chamas avançando pela escuridão das cavernas, soubemos que era o nosso fim, não tínhamos força, pericia ou equipamento para enfrentar um dragão de verdade, o que veio em seguida nos surpreendeu, o rio se agitou e uma figura humanoide rompeu um pedaço da ponte desconcertando a investida dos dragotauros, subindo ate nosso nível, seu corpo coberto de lava turvava o ar ao nosso redor distorcendo sua forma com o calor, pingos de pedra derretida endureciam ao cair no chão, a visão era tão imponente que nenhum dos dois lados podia mover um músculo enquanto a lava escorria por seu corpo endurecendo quase que instantaneamente, escorrendo por seu rosto tomando forma ou talvez se moldando por forma de sua barba, seus olhos eram brilhantes, alto como uma arvore, a minha frente estava uma lenda perdida, historias que eu julgava serem besteiras, um dos Anciões, um dos arquitetos desse mundo que deu forma as montanhas, seu grande punho desceu com velocidade sob a ponte a partindo somente onde ele queria que as pedras se dividissem, e como que atendendo seu desejo as rochas cederam apenas em um ponto, sequer uma rachadura maior avançou alem do que ele queria mais o estrondo fez todos perderem o equilíbrio.

Não conseguia proferir palavras diante do que eu via, mesmo inadequado para alguém que ira suceder o grande rei , me aproximei do Ancião e disse "lutaremos ao seu lado contra o dragão" e me ajoelhei, sua mão imensa que deveria estar quente como a lava tocou em mim e era fria e gentil mesmo sendo feita de pedra, ele disse "recuem para a cidade, cuidem dos feridos, o dragão vai ser detido" não questionamos suas ordens, magia, fogo, rocha e metal criaram uma sinfonia terrível naquela ultima noite onde quem ficasse perto demais da batalha poderia morrer pelos efeitos colaterais dela, a terra sangrou sua lava quente, a magia dos dragões encheu a grande câmara de ozônio e eletricidade, fez gelo e vento criarem uma tempestade no subterrâneo e de manha não havia mais dragotauros para se enfrentar, o dragão havia recuado, a ponte estava concertada, a parte quebrada fora refeita com pedra não esculpida, com uma aparência tão perfeita de pedra natural que me senti tola lembrando de meu orgulho por nossas criações, nossa arte que eu julgava ser a melhor do mundo quando vivíamos em casas criadas por outros tão grandiosas e belas que não podiam ser imitadas.

Com o mundo muito mais quieto do que na noite passada, deixamos aquele lugar sem encontrar mais uma vez o ancião, os clérigos estavam certos, alguém havia ascendido um fogo, um fogo de forja, o mundo inteiro era a oficina dele, e ele nos mostrou que não estamos sozinhos, se tentarem encontrar um ancião sigam essa canção então.

Fumaça negra sobe pela chaminé do vulcão
E vento sopra por suas cavernas
Céus claros como o dia ficarão cinzas então
É o sinal, você esta perto do Ancião

As rochas marcam seu caminho
As montanhas sua morada
Aqui ele anda sozinho?
Mudando-se sempre em sua jornada?
Em breve você achará o Ancião

Rios de fogo queimam a terra onde ele anda
Belos são seus trabalhos em pedra
Aos que sabem ouvir o metal seu nome canta
E as pedras ele comanda
O grande artesão que chamamos de o Ancião

Em sua forja faíscas voam e seu som retumba como tiros de canhão
Divinas são suas criações
Seu sopro como fole faz a terra rugir em erupção
Sua mão trabalhando, a mais incrível das visões
Não mais lenda perdida, você achou o Ancião

segunda-feira, 2 de julho de 2018

O Mestre Da Masmorra

RPG e Segregação Feminina

A minha infância foi a muito tempo atrás, se você acredita que o mundo hoje é machista, bom senhores, vocês não tem a minima ideia, eu ouvi disparates na minha infância como, mulheres não podem sair de casa depois das 6 horas porque é perigoso para elas,mulheres não devem usar o tênis, não devem usar calça, não devem dirigir, não devem ir a certos locais que são "de homens" e em alguns casos mais bizarros, não podem ter amigos homens isso seria incompatível, quase uma aberração. Ja o meio nerd, o meio nerd senhoras e senhores diferente do que vocês pregam hoje, era e ainda acho que ele é um dos meios mais inclusivos que existe, o meio nerd no qual eu cresci era os dos fãs de jornada das estrelas, fãs de Transformers, de he-man e shera, para os que apontam o dedo para essas series e falam sobre falta de representatividade, eram tempos diferentes, muito diferentes, só o fato de Uruha de star trek ter aquele papel importante que teve ja era uma quebra de paradigma.

"Se você considera isso armadura masculina e divide proteção por sexo, você tem problemas"


Aos que ficaram e não correram do paragrafo anterior com receio de ouvir um bando de baboseiras bizarras e "feministas" isso não é um discurso feminista, desde de que eu ouvi de uma conhecida sobre o que ela achava do termo "homem feminista" eu deixei de falar com essa pessoa e nunca mais me considerei feminista como fazia nos anos 90, igualitário poderia ser um termo melhor, sendo assim como eu me vejo, posto os rótulos nos seus lugares por mais idiota que isso seja, o RPG é extremamente LGBTfobico, o ultimo texto que joguei no meu blog gerou analises que eu não pude acreditar no que lia, tanto de um lado da moeda quanto o outro (sim senhoras misândricas, sua hora vai chegar) comentários que me fizeram lembrar de coisas que eu passei em mesas, joguei e narrei, não estou me isentando, muito do que eu criticarei ja foi usado por mim ostensivamente, por ser mais fácil, por ser um estereotipo, por ser algo esperado ou porque os jogadores esperam que seja feito, acaba sendo um problema maior do que o que parece, afasta jogadoras do RPG e não é para menos, se as maltratamos tanto, toxidade essa que afeta não apenas as mulheres, mais os homens também.

Muitas vezes os mestres são adeptos de dar XP por talento de interpretação e batalha, quando tem uma jogadora na mesa e ela ganha mais xp que os outros devido a essa politica do mestre que em meu caso eu acho um pouco problemática, por estimular competição num jogo que a cooperação deveria ser o ponto forte, logo a jogadora é mau vista pelo outros jogadores, dizem que ela é a namorada do mestre ou coisa pior, ou comentários com relação ao mestre ser escravo de rabo de saia.

O caso da jogadora ser sobrecarregada com a interpretação de diversos personagens diferentes por ela ser mulher e se torna meio que uma segunda narradora da campanha ainda que ela não tenha vontade, talento ou agrado pela posição de narrador, porque homens não podem interpretar mulheres, isso gera piadinhas que eu mesmo tive que passar sobre minha sexualidade, piadinhas essas que as vezes são inofensivas, as vezes se tornam ofensas pesadas.

Personagens de jogadoras se tornando alvos sexuais da aventura. O destino de um personagem jogador que perde em combate contra bandidos normalmente é a morte, contudo já vi acontecer de personagens de jogadoras serem estupradas por monstros em mesas com uma riqueza de detalhes que não era nem relevante com o tema da mesa, nem com a faixa etária da mesma, não estou cagando regra, não digo que isso não possa acontecer em rpg, contudo é importante que os jogadores saibam o limite do gore na mesa em que estão jogando, para não ficarem desconfortáveis ou enraivecidos pelo fato do narrador os ter surpreendido com tal acontecimento.

"Uma cena assim pode ser bem interessante e dramática, para o grupo certo e narrada de maneira certa"


E por fim o que eu mais vi acontecendo, mulheres não faziam personagens que mudavam o cenário de jogo, muitas vezes os jogadores fazem personagens que se tornam lendas em suas mesas, eu posso contar nos dedos de uma mão uma garota que chegou a fazer um pj assim, tanto pelo fato de que era constantemente subestimada por ser garota, tanto que o mestre não dava valor a seus atos ou a própria jogadora em si, pensem por si mesmos, quantos jogadores fizeram personagens que se tornaram lendas em suas mesas? você mesmo pode ser um deles, quantas jogadoras então? posso estar sendo parcial, mais relembrando aos malucos de dedos em chamas para falar que eu estou tornando muito amplo uma experiencia que é só minha, em meu blog, eu falo por mim, não posso falar por ninguém mais nem assim o desejo, e sim as experiencias que citei acima são minhas e ponto.

Ainda acho que o meio nerd é um dos mais inclusivos que existe, mais o RPG precisa mudar, nos RPGistas somos machistas demais, nos anos 2000 na época em que eu mais comprava dragão brasil sempre havia na seção de procura-se jogador da revista, cartas com "procura-se jogadora para ..." mais também sempre havia relatos de jogadoras que eram destratadas pelos seus narradores ou pelo grupo inteiro, chegou a haver um movimento organizado disso o MMM, para os novos demais para terem visto, o movimento machão medieval, que chegou a pregar a morte de sistemas tidos como "de mulherzinha" para dizer o minimo e incitava como mulheres não deveriam jogar rpg, e sim serem bonitos acessórios da mesa.

O ponto em que eu quis chegar nesse texto? Deixar uma ideia para reflexão, e um conselho, tratem os outros não importa quem sejam, como você espera ser tratado, não coloque sua crença, sua idealização de mundo ou sua visão filosófica antes de sua empatia, os criadores de cenário antigos e mesmo os novos já afastam as garotas o suficiente para precisarem da ajuda dos narradores e jogadores.